dimanche 29 juin 2008
sem título - apenas orgânico demais
sem título - apenas orgânico demais
Quando o desespero toma conta de você
E o inconsciente torna-se
mais saudável,
mais forte
e mais consciente
que o próprio consciente.
Quando se precisa de uma mão
para emergir e respirar fundo
E a única mão que se vê é a sua própria
querendo te superficializar,
trazendo à pele os machucados internos
como uma maneira de acabar com o que te deixa cada vez mais fundo.
O que não parece ter solução
apenas quer um pouco de paz
E isso lhe basta para se resolver.
Mas se as mãos insistem em machucar,
a única construção que elas são capazes de fazer,
destróem
E tornam o amor maravilhosamente anestésico,
o carinho um vício.
Se desvencilhar desse lodo,
dessa areia movediça
pode parecer impossível
até que se perceba que
"querer agir é necessáriamente o mesmo que ser livre."
das palavras e das coisas
mardi 24 juin 2008
A menina em desespero [volta a escrever, porque é assim que funciona]
Há uma menina pequenina que habita a minha mente.
A menina vive faminta e quanto mais come com mais fome fica.
Ela fica, por vezes, enjoada, mas isso não a impede de comer. Até a faz mastigar mais e tirar algum prazer do chocolate.
Ela fica, por vezes, triste, mas isso a faz tirar pedaços maiores para ficar mais satisfeita.
Ela odeia o meu mundo, mas como é de chocolate.................
Ela quer destrui-lo e por isso come. E come. E come...
Será que ela nunca ouviu falar em bazucas?
Ela continua a mastigar...
jeudi 19 juin 2008
UM DIA NA VIDA DE REGINETE
Reginete, a empregada da casa do Vieira, chega da Rua Grande toda querendo ser, de traca amarela, uma japonesa bandeirosa com pontuação 2 números acima da sua, rebolando e exibindo sua calça nova, daquelas bem apertadas e lá no rendengue, que comprou pra sair à noite. Logo gerou um bafafá dos invejosos da rua.
- Olha a barata do Vieira. Quer se aparecer! Tá escritinha uma fulêra!
- E tu parece uma nigrinha dando conta da vida dos outros – retruca à mulher Seu Barriga.
Porém, despertou também o interesse da molecada da rua. A galera do chucho parou para secar a moça. Até quem tava no desafiado. Guga largou de empinar seu papagaio aos gritos de 'lá vaiii lá vaiii...', sempre na guina para lancear melhor e com uma bimbarrareforçada , como proteção ao freio, e linha puída pelos amigos que sabotavam pisando nela, para admirar:
- Éguass Reginete! Tá bonita como quê!
- Hmmmm piqueno. O que é heim? Só porque to com minha calça nova? Comprei na Lobrás tá?!
Victor, o mais novo da turma, desinformado, questiona:
- O que é Lobrás?
- É uma loja, abestado. Ao pegado da Mesbla. Defronte as Pernambucanas. Onde a gente vai sempre capar bombom – corta Guga.
Caverna, sempre casqueiro, largou sua curica, feita de talo de coqueiro e folha de caderno, e veio, catingando que só ele, arrumar cascaria com Guga.
- O quê que tu quer?! A nêga é minha.
- Hmmmm tu quer te amostrar pros teus pariceiro? Te dôle um bogue!!!
- Me dáli??? Rapá, tu não me trisca!!!
E a galera querendo ver o oco vem zilada jogar lenha na fogueira.
- Éééésseeeeee!!! Tá falando da tua mãe!!! Chamou de qualhira!
- Éééguasss... eu não deixava!!! Cospe aqui – diz Dudu estendendo a mão.
Mas Guga não entra na conversa dos amigos:
- Vocês só querem ver a caveira dos outros!
- Ihhh gelão... cagou ralo heim Guga!!! Tá aberando!!!
Até que chega Lombo, o mais velho da turma, que jogava peteca naquele momento. Ele tinha o costume de quebrar as petecas alheias na brincadeira do cai, dando um china-pau com seu cocão de aço, principalmente se fosse uma olho de gato. Utilizava, também, o recurso do olhinho, mas dificilmente só bilava. Pediu limpo, completou matança nas borrocas e depois foi pro casa ou bola. Às vezes porco ou leitão vistando. Ele intervem:
Ê Caverna, tu já tá coisando os outros aí né?! Vaii já levar um sambacu!
- Hen heim. Vamo já te dar um malha – confirma Guga, aliviado com a intervenção de Lombo.
- Hen heim – ironiza Caverna imitando Guga com voz afeminada.
- Não me arremeda não!!! Olha o raspa!!!
- Ahhh... vai te lascar!!!
Depois do furdunço por sua causa, Reginete sai toda empolgada de lá e decide dar logo uma parada na quitanda da Zefinha, lembrando que seu Vieira havia pedido que ela comprasse alguns ingredientes para garantir o fim de semana, já que Dona Veridiana ainda não havia feito a Lusitana do mês.
- Oi Dona Zefa. Quero camarão seco pra botar na juçara da dona Veridiana e fazer arroz de cuxá? Me arrume 3 Jeneves também, 2 quilos de macaxeira, um lidileite alimba, 2 pães massa fina e 4 massa grossa! Ahh... e uma canihouse pro seu Vieira!
A senhora vai checar seu estoque no freezer e retorna:
- Ê essa outra... só tem Guaraná Jesus. Vais querer? Vais querer quantas mãozadas de camarão?
- Três mãozadas tá bom. E pode ser Jesus sim.
Ao chegar em casa com as compras, seu Vieira repreende a moça:
- Tu fica remancheando pra trazer o cumê. To urrando de fome aqui já! Cuida piquena!! Vou só banhar e quando voltar quero ver tudo pronto.
- Ô seu Vieira... o senhor é muito desinsufrido! Já to arreliada com uma confusão dos meninos na rua. Não me aguneia! Confie ni mimque faço tudo vuada! O senhor sabe que...
- Já seiii... tá bom... aí fala mais que a nêga do leite. Eu heim?! – seu Vieira interrompe.
Neste momento chega Marquinho, filho do seu Vieira, com a equipagem da Bolívia Querida toda suja. Sinal de mais trabalho pra Reginete.
- Menino, olha essa tua roupa. Tava num chiqueiro era? Vai ficar encardidinha! Isso não sai não! E esses brinquedos?! Tudo esbandalhado! Aí não tem jeito! Olha... tá só o cieiro (ou ceroto, como queiram)!
- Tava jogando travinha com os moleques! Não enche e me dá logo esse refri aí que to com sede.
- Hum Hum. Isso é do seu Vieira!
- Marrapá! Por quê?! Deixa de canhenguice, piquena!
- Deixa eu cuidar comigo que ainda quero sair hoje pra radiola no clubão! Vai rolar só pedra!
Passada a janta, Reginete já exausta lava a louça e reflete sobre seu evento da noite: 'Já estou é aziada e as meninas não ligam. Amanhã começa mais um dia de trabalho e se sair hoje ainda fico lisa pro fim de semana!'. A moça muda de idéia segue sua rotina. Todos os preparativos para a noite foram em vão? Nãããã! O importante foi chamar
a atenção e não se achar mais uma no meio da multidão!
'A cerveja e a cachaça são os piores inimigos do homem. Mas o homem
que não enfrenta seus inimigos é um covarde' (Zeca Pagodinho)