jeudi 13 juillet 2006

Super-man

" Ela gostava de ficar naquela posição «como habitualmente eu sempre fico»...
Deitada de costas, apenas respirando e olhando para o teto do seu quarto amarelo «na verdade o quarto era daquele azul bem claro, mas eu costumava olhar para o céu», cheio de folhas com desenhos «de poesias, escritos sem sentido, poemas abstratos» espalhadas pelo chão.
Desenhos «textos» feitos à mão.
Desenhos «textos» feitos de sonhos.
Desenhos «textos» feitos de desejos.
Desenhos «textos» feitos por seus dedos fortes e deliciosos, que simplesmente adoravam o cheiro do nanquim «da tinta daquelas canetas coloridas que tentavam dar vida àquelas palavras emendadas» e as manchas que a tinta deixava.
Manchas. Marcas.
Manchas. Marcas.
E se sua vida tinha alguma espécie de marca ou de mancha, era apenas as manchas de suas vontades e de suas pirações.
E as paredes amarelas «aquele céu multicolorido de São Luís do Maranhão» transformavam-se em pequenos caleidoscópios multicoloridos, como um esboço de algum quadrinista sessentista, hippie gordo, entupido de substâncias lisérgicas «o esboço daquele garoto artista, de olhos enormes da mesma melancolia e vida que morava nos meus, de um jeito de falar quase que sussurrado, totalmente fora dos padrões, os padrões que tanto me apavoram».
Um quadrinista velho, barbudo, cheio de rugas e cicatrizes na pele enrugada «meu artista sorriso contido, com jeito irônico de falar, de papéis incomuns, de tez tão branca, multifacetado... pois cada vez que o vejo é uma nova descoberta».
E ela via o seu rosto aparecer e desaparecer nas paredes amarelas «no seu céu multicolorido».
Como uma luz neon.
Um rosto assustador «penetrantemente assustador, intimante... ou íntimo?».
Psycho killer total.
Palhaço assassino.
Antítese do amor.
E o que a deixava intrigada «algumas vezes apaixonada, mas no meu sentido particular de paixão» era que o tal rosto ora era do quadrinista velho e gordo «na verdade o teu», ora era do seu passado «o palco, o coração disparado, as luzes, o sussurrar da platéia a cada estréia, os olhos atentos na platéia, a sensação de nudez total...».
E ela ameaçava chorar, como não querendo ver, como querendo que as lágrimas escondessem o cenário.
Seu coração palpitava e palpitava e palpitava e ela queria ser a personagem dos seus desenhos «ou de também fazer parte de seus sonhos ou delírios».
“Mas, minha filha, isso não é real.
Estes desenhos «sonhos» são absurdos” - a voz de sua mãe ecoou na memória.
E ela sorriu como se isso adiantasse «como eu faço todos os dias».
Como se isso adiantasse.
Mas, no fundo, tudo o que ela mais queria era apenas que ele estivesse por perto.
Perto do seu corpo e do seu coração «mas que ironia, hoje te sinto mais perto...»
Porém, infelizmente, naquele momento e talvez no resto da sua vida, isso era realmente difícil.
Um trabalho para super-herói.
E ela não era Clark Kent «como nenhum de nós...».
Definitivamente.
E, por isso mesmo, ela preferiu apenas ficar na sua posição preferida durante o resto do dia «como no final de todos os dias».
Deitada de costas e com os dedos sujos de nanquim, «da mesma tinta das canetas coloridas» esperando o seu coração voltar a bater...
Apenas esperando o seu coração voltar a bater...

1 commentaire:

Anonymous a dit…

I love your website. It has a lot of great pictures and is very informative.
»