dimanche 6 août 2006

"Minha poesia nunca é jogada fora
Mesmo que os papéis não existam mais.
A memória não é feita de bloquinhos rosas, canetas coloridas ou de papéis banais.
Minha memória é feita de cheiros que estão impregnados nos meus dedos, de cores que sei que não sairão de minha mente, de canecas cheias de um chá bem quente, de uma vida que passou, que está passando e cravada em mim.

Agora, sei que não importa do que me desfaça, qualquer coida que eu passe, as lembranças sempre estarão presentes.
Só me resta não acordar nas madrugadas com os olhos cheios de lágrimas, e conseguir levantar sem pensar. Resta não ficar angustiada ao ouvir nomes e vozes familiares, ao ver passos e jeitos de andar.
Porque esquecer,...

Ah! Esquecer... já desisti!!!
Não importa quantas vezes eu troque as fotos do meu mural ou porta-retratos, quantas vezes retire sua mão do meu ombro ou em quantas frestas eu não enxergue.

As lembranças...
E lá vêem elas com o cheirinho que me acordava todas manhãs do café coando e da tapioca esquentando na frigideira, das confusões de quatro mulheres transitando pela casa, gritas, esbarrões às gargalhadas, de ter que dirigir durante menos de 10 minutos pra depois voltar a dormir...

Lembranças mais remotas...
Os encontros fortuitos com amigos de anos até os mais novos nas ruas da cidade (nessa cidade onde todo mundo se conhece, tem elos, pontos em comum e no final da contas sempre alguém é alguma coisa de outro alguém), o filme europeu ao final da tarde no Cine Praia Grande (atual Alcione de Nazaré) pra depois passear em poesia pelas ruas do Reviver, tardes virando noite e madrugadas jogando conversa fora na casa dos amigos, joguar War na casa de MELADOS, tocar violão com a galera cantando: “É preciso amaaaaaar, as pessoas como se não houvesse amanhã...”
Os encontros nos arraiais com os amigos, vendo o boi raiar nos terreiros... Ver o Nina brilhar...

Lembranças de gostos:
o guaraná Jesus sempre beeeem geladinho, camarão com cuxá, o sabor único do cupuaçu (sendo no bombom melhor ainda)...

Lembranças diversas:
as praias com o mar que vem e vai, meus aniversários com o apartamento cuspindo gente e eu sem nem sentir o tempo passar de tanta felicidade, vida de Cristinas, de Mirandas, meus longos passeios solitários na Litorânea no fim de tarde só pra ver o encontro da aurora, da lua e do mar, o copo d'água com gelo pelos cantos da casa e minha mãe sempre a reclamar deles, a rede do meu pai balançando ao som da Radio Globo na sacada do apartamento fazendo o Versalles todo ouvir, São Luís do Maranhão, o aeroporto de chegadas e partidas, o encontro sagrado com meus meninos na Maggiorasca, os abraços quentes e duradouros...
nada disso está guardado em papéis e blocos de anotação...
Nada disto está cravado em árvores - vivas ou mortas.
A minha memória não é jogada fora, pois as coisas já estão em mim.

Só me resta fazê-las não doer."

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