
- Não! Você não pode estar dizendo a verdade, não me olhe com esses olhos de quem está sendo sincera porque não vou acreditar em uma só vírgula tua.
- Mas... o que quer que eu diga então? Quer que eu diga a SUA verdade dos fatos?
- Ok. Vamos deixar essa conversa pra depois? Agora eu tenho mais a fazer que ficar aqui nessa discussão que não vai desembocar em conclusão alguma. Mas saiba de antemão que você não me convence com seu discurso melodramático.
- Cézar, não vá. Você tem que entender que o meu coração não é uma pensão, que vem você, fica um tempo, e vai embora quando bem entende, deixando meses de aluguéis atrasados!
- Não, não, não... Seu coração não é uma pensão. Seu coração é um farol que ora aponta pro sul, ora aponta pro norte, ora nem mais sabe pra onde aponta...
- Agora chega. Ofensa demais por um motivo tão... tão...
- Tão o que, Marcela?
- Tão... não concretizado, oras!
- Ah... agora você vem me dizer que não aconteceu nada?
Marcela, agora você está querendo insinuar que tenho a inteligência precária.
- Cézar... como eu poderia insinuar isso se foi exatamente pela sua inteligência brilhante que me apaixonei perdidamente por você?
- Dissimulada...
- Não faz assim comigo, meu amor... puxa, eu te amo tanto, eu te amo tanto, tanto!
- Cínica...
- Sabe que se eu fiz algo que te desapontou foi por pura falta de bom-senso na hora.
- Pura falta de vergonha na cara...
- Cézar, perdoa?
- Ah! Agora assume. Ao menos assume o erro. Se pede perdão é porque chegou ao fundo do poço das desculpas esfarrapadas. Diga: que motivos eu teria para te perdoar, Marcela?
- Não tem um motivo propriamente dito. Não tenho mais desculpas, como você mesmo deduziu. Vai, eu sou uma safada sem escrúpulos. Uma desclassificada sem vergonha. Mas agora estou sendo sincera. Eu te amo, caralho. Eu te amo e não vou conseguir viver sem você. Não me deixe.
- Estou embasbacado. Estou realmente sem palavras pra você, Marcela. Até palavrões já aprendeu a dizer por esses buracos onde você certamente está andando.
- Certamente. Mas diga... você não fica excitado quando digo um palavrão desses de encher a boca?
- Deus, que devassa... Diga, como assim "encher a boca"?
- Ora. O caralho, por exemplo. Dizer "caralho" não é algo que enche a boca? Não é um ato de extrema libertação do que se sente?
- E essa libertação, você cospe ou engole?
- Antes eu engolia. Engolia tudo, Cézar, sem nem reclamar. Agora eu cuspo. E cuspo com raiva. Se bem que...
- Se bem... ?
- Com você até me dá tesão engolir. Você me dá um tesão danado.
- Não me tira do sério, Marcela, você ta querendo me seduzir com essas brincadeiras de duplo sentido, e eu não vou mais cair nessa.
- Puxa, amor... você não gosta mais da sua bebezinha?
- Era isso, Marcela. Isso o que estava faltando. Você vir meter a nossa intimidade no meio dessa merda toda.
- E o que estamos fazendo aqui agora não é íntimo?
- Mas jogar na cara os apelidos carinhosos, que no fundo são o extremo do ridículo, é golpe baixo! Golpe baixíssimo, bebezinha...
- Ah, sua bebezinha ta precisando tanto de colo...
- Porra... eu odeio isso. Odeio, percebe?
- O quê?
- Essa maldita chantagem manhosa que você faz comigo toda vez que iniciamos uma discussão crucial. Você sabe que eu amoleço com essas coisas.
- Pelo que eu saiba, você costumava endurecer com essas coisas!
- Safada... vem cá... minha safada. MINHA.
- Ai Cézar, eu gosto tanto quando você me pega assim!
- É pra você lembrar de que é minha, Marcela.
- Tesão...
- Mas... por que era mesmo que discutíamos?
- Não sei, deixa pra lá, vem cá, me beija, gostoso...
- Não! Saia daqui, tentação dos infernos. Mulher é foda mesmo, não é? Porra, mulher é foda. Marcela, você não vai mais me comprar com essa sua sedução barata. Respeita ao menos a minha raiva, mulher!
- Tá bom. Mas quando a sua raiva passar, você vem deitar aqui do meu lado?
- Nem queira saber o que vou fazer, Marcela. Nem queira. Nem tente imaginar o que estou a ponto de fazer. Esses seus artifícios só estão me dando combustível pra ter forças e fazer o que se espera que um homem digno faça nessas condições.
- Você vai me matar? Não, meu amor, não seja tão clichê.
- Ora, não era você que estava me seduzindo para que a discussão acabasse em sexo? E eu que sou clichê? Não fode, Marcela.
- Tá bom, Cézar. Tá bom. Quer saber? Agora quem quer que tudo se foda, sou eu. Vai embora mesmo, sabe, vai embora e não volta mais, porque sinceramente, já cansei dessa sua ladainha. Você não se toca de que não adianta ter ciúme de mim?
- Você é minha... só minha... minha.
- Eu não sou de ninguém, meu filho! Ninguém é de ninguém, não me venha com essa. Aprende de uma vez que eu não sou propriedade. Se me quiser vai ser assim, do jeito de sempre. Do jeito que você sempre gostou e sem reclamar. Que palhaçada é essa agora de vir me cobrar exclusividade?
- É. Deixa quieto. Acho que essa merda toda vai acabar mais clichê do que pensamos. Vai ser como história de novela, onde o casalzinho discute, discute, discute, e um dos dois sai batendo a porta, e no outro dia a mesma cena. E sempre a mesma cena. Sempre. Eu nem lembro mais por que isso tudo começou. Tô cansado, tá sabendo?
- Vem cá, vamos de uma vez por todas decidir como isso tudo vai ficar: Otelo e Desdêmona ou César e Cleópatra?
- Vamos de número dois hoje?
- É né... Por enquanto é o que nos resta. Até um dia você virar homem e praticar o número um.
- Não me atiça, Marcela...
- Atiço, atiço! Vem cá, vem, vem cá, paixão!
- Ai... minha bebezinha safada!"
Por Cecilia
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