
O Espelho
Queria profundamente ter sua sabedoria para o mundo, mas infelizmente eu não sou você.
Infelizmente, porque eu gostaria de ser qualquer pessoa, qualquer uma, para me livrar do peso de ser eu mesma.
Não que você seja tão perfeita ao ponto de despertar inveja; pelo contrário, você é tudo o que não faz parte da normalidade humana.
É por isso que eu queria ser você, menina dos olhos de melancolia.
Menina dos cabelos feitos em cachos castanho amendoados.
Olho para ti e vejo uma sublime tristeza na sua alma, mas uma tristeza doce, daquelas em que você nem consegue ver a porcentagem ruim.
Você é tão perfeitamente impura, que chego a sentir um amor incorrigível, chego a te desejar.
É como se eu quisesse te possuir como um homem, mesmo não sendo um.
Chega mais perto, vamos conversar.
Vamos ajudar a vida a ser menos cinza com a nossa união.
Viver um amor acima da materialidade mundana.
Acima de tudo.
Nem o tempo conseguiu te decifrar, nem isso.
Passam-se décadas e você com os mesmo gestos infantis, a mesma ingenuidade no conhecer, o mesmo sorriso como aqueles que abria brincando de fazer castelos na areia da praia....
O mesmo tudo.
A mesma coisa.
A mesma menina.
Eu queria ser você.
Talvez eu pudesse gostar de te assumir, mas o mundo me maltrata demais para que eu tenha esse impulso.
Não, o mundo maltrata muito mesmo.
Você sabe tão bem quanto eu.
Então é sempre a mesmíssima saída pela direita.
É sempre o desencontro, o desespero, o despreparo para te descobrir.
Eu não sei quem é você e isso dói como queimar a ponta da língua com chá quente e calmante.
Não quero mais desistir de te descobrir, anjo das bochechas rosadas.
Invada-me como quem faria isso uma única vez na vida.
Venha buscar o que é seu, venha buscar a cumplicidade que eu deveria ter contigo.
Venha cobrar tudo o que eu não te dei até hoje.
Venha receber os carinhos que neguei para a criança que um dia você foi e que ainda está guardada fortemente aí dentro.
Lute por nós, Laninha, lute.
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